quinta-feira, 21 de maio de 2009

GESTÃO PARTICIPATIVA

Administrar: uma ação coletiva

Diretor e coordenador pedagógico assumem novos papéis em uma gestão participativa
Paola Gentile (pagentile@abril.com.br)


Situação 1: no ano passado, o Colégio Estadual Niterói, em Volta Redonda (RJ), tinha uma verba sobrando. Os professores viram a possibilidade de começar as obras do tão sonhado laboratório de Ciências. Mas as merendeiras lembraram que a cozinha, sem janelas, precisava de mais espaço e ventilação. Os funcionários convenceram o corpo docente da urgência de sua reivindicação e o recurso foi aplicado na reforma da cozinha.

Situação 2: desde o ano passado, os professores do Colégio Estadual Carolina Lupion, de Carlópolis (PR), sentiram-se incomodados com a composição das notas dos alunos. Eles queriam somar às provas e aos trabalhos a participação em sala e as atitudes dos jovens em relação aos colegas. Direção e coordenação pedagógica propuseram que 60% da avaliação viesse do conteúdo ensinado, 20% da participação e 20% da postura pessoal. Sem consenso, a implantação da idéia foi adiada, pois as discussões continuam.

O que tem a ver a cozinha do Colégio Niterói com as notas dos alunos do Carolina Lupion? No centro das duas instituições está um modelo de administração baseado na participação de todos nas decisões dos rumos da escola. Afinal, se as diretoras tivessem mão-de-ferro e fossem autoritárias, teriam resolvido as questões sem ouvir seus pares.

Gestão da participação

Construir um ambiente democrático não é tarefa fácil e, por isso, não é empreitada para um só. "Uma gestão participativa também é a gestão da participação", afirma José Carlos Libâneo, professor da Universidade Católica de Goiás, em seu livro Organização e Gestão da Escola. Quem ocupa cargos de liderança — como diretor e coordenador pedagógico — precisa despir-se da postura de chefe para criar um clima em que todos dêem idéias, façam e recebam críticas e aceitem consensos.

"Administrar democraticamente pressupõe uma educação democrática, ou seja, saber ouvir, saber contestar com argumentos e ceder", explica Rubens Barbosa Camargo, professor do Departamento de Administração Escolar da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

De todas essas habilidades, ouvir talvez seja uma das mais difíceis. Afinal, as discussões, dependendo do tom dos interlocutores, podem virar bate-bocas. "Não se tem tradição em administrar confrontos", analisa Vera Maria Nigro de Souza Placco, professora do Programa de Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ela acredita que as divergências podem ser valorizadas quando há respeito e consciência de que a formação também se dá com a contribuição do outro.

Também é preciso garantir espaços e tempos para o debate. No cotidiano existem muitas oportunidades para isso, como nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classe, na Associação de Pais e Mestres e no conselho escolar (leia reportagem).

Diretores, seus adjuntos e os coordenadores pedagógicos, nesse contexto, participam no papel de articuladores e defensores da democracia interna. "Um diretor centralizador acaba tendo coordenadores idem, que não permitem a reflexão e a busca de soluções coletivas", alerta Luiza Christov, professora do Departamento de Educação do Instituto de Arte da Universidade Estadual Paulista. Essas figuras têm, portanto, de desempenhar papéis diferentes dos que costumavam ter em uma administração baseada na hierarquia (leia quadro abaixo).

Eleições e democracia

Algumas redes públicas prevêem a eleição para diretor e coordenador, ocasiões em que as chapas apresentam um projeto e assumem compromissos. Para Vitor Henrique Paro, professor da Faculdade de Educação da USP, seria um avanço para a gestão democrático-participativa se a lei acabasse com a hierarquia e previsse um núcleo diretivo para as escolas. Ele sugere que coordenadores de diversas áreas (pedagógica, administrativa, comunitária e financeira) assumam em conjunto as responsabilidades.

Mas, na prática, mesmo a lei não prevendo esse modelo, é possível garantir, no dia-a-dia, que os problemas sejam discutidos e decididos pela comunidade, se diretores e coordenadores pedagógicos investirem nas relações interpessoais e na garantia de espaços de discussão e de busca de soluções.
Os papéis de cada um
Diretores e coordenadores pedagógicos precisam propiciar um clima de abertura e respeito, para que todos possam criticar e sugerir sem medo de represálias. Veja o que cada um deve fazer, além de ouvir com atenção seus pares e administrar confrontos como momentos de crescimento, para que uma gestão seja democrática e participativa:

DIRETOR

Ser o articulador da proposta pedagógica

Decifrar e compartilhar as informações contidas em leis que afetam o cotidiano escolar

Propiciar momentos de discussão organizados, com pauta definida, com tempo e espaço para que todos participem

Definir problemas e identificar soluções, levando em consideração a opinião de todos

Coordenar a parte administrativa sem prejuízo do acompanhamento das questões pedagógicas

Ressaltar as funções educativas de todos os funcionários

Providenciar condições materiais e estruturais para que todos possam realizar seu trabalho

COORDENADOR PEDAGÓGICO

Participar ativamente da elaboração e discussão da proposta pedagógica

Estar atualizado com pesquisas e bibliografia para orientar os professores na busca de soluções

Garantir tempo e espaço — 2 ou 3 horas por semana — para discussão sobre a prática docente e relações com os alunos

Ser o organizador do processo de educação continuada da equipe

Ouvir as queixas dos docentes e criar uma rotina de reflexão coletiva sobre as possíveis soluções

Planejar e avaliar em conjunto as ações didáticas

Organizar estudos e leituras que possam levar o professor a ter autonomia sobre a sua docência

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